Em novo CD, John Hollenbeck grava Bicycle Race do Queen

John Hollenbeck retorna a suas canções preferidas. Músico transita com desenvoltura por todos os ritmos

Aos 44 anos, o baterista norte-americano John Hollenbeck está no auge de uma carreira diferenciada. Não se pode chamá-lo de baterista de jazz, nem de músico erudito contemporâneo. Mais absurdo ainda é etiquetá-lo como músico popular. Mas o que ele faz que o torna tão diferente?

Hollenbeck transita com desenvoltura em todos os rótulos da música. Passa do improviso para composições escritas refinadas. Isso sem falar nos arranjos, de uma sofisticação sem paralelo. Já trabalhou com o pianista Fred Hersch, nomes ilustres da vanguarda (Meredith Monk) e com expoentes do free (Kenny Wheeler). Encontrou no pianista Gary Versace e no vocalista Theo Bleckmann parceiros chaves de seus projetos da última década. Lidera o Claudia Quintet, um dos mais radicais grupos da música instrumental contemporânea.

E agora lança o CD Songs I Like a Lot, ou as minhas canções preferidas. Aos 16 músicos da Frankfurt Radio Big Band, Hollenbeck acrescenta Bleckmann e Versace. E, como cereja neste bolo refinado, uma convidada inesperada, a cantora Kate McGarry. Kate é convencional, está esteticamente longe do universo de Hollenbeck, mesmo tendo estudado com o saxofonista avant-garde Archie Schepp. Deu-se com venerandos gênios do jazz, como o trompetista Clark Terry e o pianista Hank Jones no início de carreira, nos anos 90. Trocou Los Angeles por Nova York, assinou com a Palmetto e tem feito gravações previsíveis, mas talentosas (a mais recente, de 2012, Girl Talk, pode ser ouvida em streaming no site da Palmetto).

Democrático, Hollenbeck telefonou para os músicos e pediu-lhes listas de suas canções preferidas. Checou com as suas próprias e com os oito clássicos do CD, nos quais imprimiu marca fortíssima. São canções conhecidas, que se transfiguram em arranjos de refinamento superior. Fazem esquecer as matrizes de tanto sucesso popular no passado. E ainda assim arrepiam, tamanho o impacto.

Ele abre com Wichita Lineman, canção que seu pai adorava, composta por Jimmy Webb e lançada em 1968 por Glen Campbell. McGarry é a primeira voz que se ouve. Mas um delicado contraponto de saxes e clarinetas dá o tom inicial. Kate contracena com Theo Bleckmann, que evoca a voz de Campbell. Outro toque de simplicidade é a guitarra evocando o simplório toque da guitarra original no registro de 1968. Em geral, em seus arranjos Hollenbeck captura e isola pequenos motivos da canção original. Usa-os como pontos de partida para as orquestrações.

A segunda surpresa ainda gira em torno de Jimmy Webb: trata-se de The Moon’s a Harsh Mistress, canção de 1974 que usa o mesmo título da novela de ficção científica de Robert Heinlein, de 1966. Foi Bleckmann quem a mostrou a Hollenbeck. O resultado é incrível. A performance dura quase 15 minutos: começa com o piano minimalista de Gary Versace, solitários acordes pairando no ar; depois do primeiro minuto, Kate enuncia a melodia da canção, ainda só com piano. Na altura de 1’48” entram duas flautas sinuosas e as escovas discretíssimas de Hollenbeck. Dali em diante, há um longo interlúdio instrumental, em que as vozes não mais entoam letras, mas juntam-se aos instrumentos como seus iguais, em scats discretíssimos, até um breve solo de saxofone a 3 minutos do fim; só então Kate e Theo retornam para nos lembrar da canção original. Autêntica reinvenção.

Transfiguração mesmo acontece no clássico Man of Constant Sorrow de Bob Dylan. O primeiro minuto e meio dos mais de 11 é preenchido com os metais em uníssono sob uma barragem percussiva meio sombria. Só então se inicia o pulso regular, longe, porém, do clima country do original. Um Hammond saltitante aqui, um sax improvisando acolá – e as vozes de Kate e Theo movimentam-se na melodia tão conhecida. Espaços largos para improvisos instrumentais, acolchoados por uma bateria irrequieta e polirrítmica.

Descrevi duas faixas apenas. Em Bicycle Race, clássico do Queen assinado por Freddie Mercury, Hollenbeck usa uma bike como instrumento de percussão e este é seu único solo no disco inteiro. As demais canções favoritas do baterista incluem Canvas, de 2009, da cantora e compositora britânica pop Imogen Heap; All My Life, possivelmente a mais inusitada inclusão, porque é tema composto pelo grande criador do free jazz, Ornette Coleman; outra inclusão inesperada é FallsLake, do dublê de DJ, eletropunk e compositor japonês Nobukazu Takemura. Hollenbeck arrisca apenas uma composição própria, a lírica Chapel Files, inesperadamente convencional.

 

Fonte: www.estadao.com.br
Dica de: Roberto Mercury

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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