Digestivo Cultural: Crítica a Queen + Paul Rodgers

Necrófilos da vanguarda roqueira
Por Diogo Salles

Eis que o Queen anunciou sua volta com o vocalista Paul Rodgers (ex-Free e Bad Company) no lugar de Freddie Mercury. Estranho, para dizer o mínimo. John Deacon, o baixista, previu o pior e não embarcou nessa canoa, dizendo que uma reunião só funcionaria com George Michael nos vocais ― opinião compartilhada por boa parte dos fãs da banda. George Michael não é roqueiro e é muito inferior a Freddie Mercury em todos os aspectos, mas seu timbre vocal é o que mais se assemelha ao de Freddie. Sua interpretação para “Somebody to love” no famoso tributo de 1992 mostrou isso e, vendo a turnê atual, ficou provado que John Deacon tinha razão.

Não que Paul Rodgers seja de todo ruim. No palco ele ainda mostra vitalidade do alto de seus quase sessenta anos e mostra reverência e humildade ao ocupar o lugar que já foi do maior front-man da história do rock. O problema maior é achar que essa história pode ser continuada. É achar que lançar um novo disco de inéditas e colocar o nome “Queen” na capa vai atrair os fãs como uma manada de búfalos.

Essa excêntrica união de forças chamada Queen+Paul Rodgers errou logo na escolha do nome. E errou feio. Se eles se lançassem com um outro nome e um outro conceito que passasse ao largo de tudo o que remotamente lembrasse Queen, a recepção seria muito mais simpática. Mas como eles insistiram em misturar as estações e estão tocando músicas novas na atual turnê ― que passará por aqui na semana que vem (dias 26 e 27 em São Paulo e dia 29 no Rio) ―, o novo disco tinha a difícil (ou seria impossível?) missão de trazer um material à altura…

Muito aquém de um Bad Queen
O primeiro erro que se pode cometer ao ouvir The Cosmos Rocks é tentar compará-lo ao Queen original. Não é exatamente um exercício fácil, já que a estranha junção de dois estilos tão diferentes poderia parecer um “Bad Queen” à primeira vista. Mas vamos nos ater apenas ao Queen+Paul Rodgers, como eles preferiram chamar. Depois que me despi de todos os pré-conceitos, me preparei para a audição. O disco abre com “Cosmos rockin” e a realidade vem logo à tona… Mau presságio para uma banda com a petulância de ter “Queen” em seu nome. Meus ouvidos já acusavam um pastiche de Bad Company, mas ainda era cedo para julgar e fui em frente. “Still burnin” tenta manter uma pegada rock, mas “Small” mergulha num clima bucólico e introspectivo e dá mostras de que o pior ainda está por vir.

Em “We believe”, a mensagem pacifista é de uma rara ingenuidade e tenta (sem sucesso) se adequar aos tempos politicamente corretos de hoje. O resultado é uma caricatura tardia de “We are the world”. Esse não é o único momento que beira o constrangedor. Em “Call me” o refrão chiclete (“Call me if need my love, baby”) tem a profundidade de um pires e poderia ser dada para algum cantor cucaracha de reality show. E por falar em reality shows, “C-lebrity” entra no mundo das pseudocelebridades e faz uma crítica ao showbizz ― o problema é que esqueceram de fazer uma autocrítica antes.

Para consumar a tragédia, fechamos com uma trinca de baladas patéticas: “Some things that glitter”, “Through the night” e “Say it’s not true”… De deixar ruborizado até Bryan Adams em seus pesadelos mais molhados. Nem mesmo Brian May foi capaz de se salvar do naufrágio. Guitarrista talentoso, ele até tem bons momentos ― como em “Surf’s up… School’s out” ― mas muito pouco para um músico de seu brilho.

O resultado final é uma banda desfigurada e anacrônica, com tiozões tentando fazer um “hype”, no melhor (ou pior) estilo papai-garotão. Quem diria… Minhas definições pré-conceituosas do início ficaram inverossímeis, pois se mostraram esperançosas demais. O que começou como “Bad Queen” e logo sinalizava para um Bad Company pasteurizado, mostrou, ao final, que The Cosmos Rocks é um disco solo de Paul Rodgers (fraco, por sinal) com uma banda de luxo apoiando-o. Caça-níqueis? Sim, aqui o termo se aplica. Freddie Mercury não merecia isso. E o pior é que ele não estava lá para evitar que seus ex-bandmates cometessem esse cósmico equívoco.
Fonte: digestivocultural.com

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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