Uma analise lírica sobre a obra prima “Bohemian Rhapsody”

“Freddie era uma pessoa muito complexa: apesar de irreverente e engraçado sobre a superfície, ocultou inseguranças e problemas em sua vida, sobretudo com relação a sua infância, as quais ele nunca explicou. Isso se reflete em suas letras em geral – mas acho que ele colocou um monte de si mesmo para essa música”. Dito por Brian May, não há que se questionar a existência de uma teia indecifrável que constituía a mente criativa de Freddie Mercury.

Crescido nos ditames do Zoroastrismo (sua família cresceu em Zanzibar de onde foram forçados a sair por uma revolução governamental em 1964 se mudando para a Inglaterra), o futuro vocalista do QUEEN foi enviado aos oito anos de idade à Índia (onde permaneceria por mais nove anos) tendo, lá, seus primeiros contatos com o rock and roll e a sexualidade – duas das características mais marcantes em vida e obra.

“Ele tinha a mania de chamar aos outros de querido, o que soava um pouco afetado. Eu sabia que ele era homossexual naquele tempo. O engraçado é que ele parecia não se importar”, afirma uma de suas professoras, Janet Smith, docente no Colégio St. Peter´s, onde Freddie passaria sua estada em Panchgani. Esse fator (que mais tarde revelar-se-ia como icônico em suas letras), sugere o primeiro questionamento sobre “Bohemian”: seriam os versos sobre morte uma analogia a sua frustrada tentativa de uma conduta sexual dita “normal”?

“É uma daquelas músicas que se fantasia sobre isso. Acho que as pessoas devem apenas ouvir, pensar sobre isso, e depois tirar suas próprias conclusões.”

Em 1974/75, o relacionamento com Mary Austin já encontrava-se desgastado, dada à agora irrefreável conduta bissexual de Mercury. “Para mim, está na cara que Freddie ‘saiu do armário´ nessa canção. Até conversei com Roger (Taylor) sobre isso. Ele (Mercury) fuzilou e destruiu o homem que fingia ser e agora tentava conviver com o novo Freddie. Sempre que escuto a canção no rádio eu o imagino tentando se livrar de um Freddie para incorporar o outro(..) É obscuro; mas considere aquele trecho ‘vejo a pequena silhueta de um homem´. De qualquer forma, ´Bohemian’ é uma das melhores músicas do século XX”, afirmou Tim Rice, músico e amigo de Freddie. Uma teoria aceitável mas, segundo Brian May: “Acho que nunca saberemos, e se eu soubesse, provavelmente nunca iria lhe contar”.

Outro ponto fundamental para a compreensão da letra são as referências zoroastristas. “O fato de o nosso povo não viver na Pérsia desde o século IX, não significa que sejamos menos persas. Enquanto os parses (nota: seguidores do zoroastrismo) são descritos como ´zoroastristas indianos´, descendemos dos zoroastristas persas que fugiram para a Índia nos séculos VII e VIII devido a perseguição muçulmana”- afirmou o representante da comunidade parse londrina, em uma das biografias publicadas sobre Freddie.

Seus pais possuíam nacionalidade britânica e indiana e se declaravam seguidores da referida doutrina religiosa. A respeito da mesma, é válido ressaltar que se trata de uma religião secular e monoteísta e, segundo constam dos compêndios, influenciou várias outras culturas religiosas do mesmo modelo.

O zoroastrismo (cujas bases teóricas tratam do messianismo, da imortalidade, da ressurreição e do juízo final) tem como livro principal a Avesta. Porém, a partir de uma curiosidade iniciada pela leitura desses textos, Freddie passou a mergulhar em outros Livros Sagrados, especialmente o Corão: “É inegável que sua iniciação nos princípios do zoroastrismo abriu sua curiosidade para outros campos religiosos”, afirma um de seus biógrafos. “Bismillah” é uma delas e significa literalmente, “Em nome de Allah” ; “Scaramouche” significa “um personagem de pretensas ações que age como um covarde prepotente”; “Belzebu” é um dos muitos nomes dados ao diabo”, afirmou Ben Corrs. “Nunca me deixe ir/ Não, não, não, não, não, não, não/ O mamãe minha, mamãe minha, mamãe minha deixe-me ir/ Belzebu deixou um diabo reservado para mim” – esse emaranhado lírico soa como uma verdadeira expiação de culpa de Mercury frente à sua condição pessoal não ortodoxa perante os ditames religiosos em que foi criado. Mais uma vez, segundo as palavras da escritora Lesley-Ann Jones, Mercury teria lhe confessado que “o zoroastrismo, não aceita a homossexualidade – e ele fez esforços para esconder sua orientação sexual – possivelmente, de modo a não ofender sua família.”

Já a menção a “Galileo”, provavelmente seja uma referência à Galileo Galilei – segundo as fontes estudadas, uma homenagem com certa dose de humor inglês ao hoje Doutor em Astronomia, Brian May.

De qualquer modo, como já bem conceituado por Jon Bream: “Bohemian é uma ópera-rock (…) Uma obra prima de ópera falsificada, que traça uma linha de história através de diferentes movimentos, dinâmicas, estilos e texturas musicais, com arranjados magníficos que soam como um coro de cem vozes, e não como três caras amarrados juntos por oitocentos canais de gravações”. Bravíssimo!

 

Fonte: http://whiplash.net

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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