We will rock you

por Seth Wickersham, especial para a revista ESPN

“Você veio de longe para conversar com o velhinho aqui?”, pergunta Brian May, o legendário guitarrista do Queen, sentado em um teatro no centro de Londres. A resposta é sim. Na verdade, estou um pouco irritado com o velhinho May. Mais especificamente, estou irritado com o que ele criou inconscientemente. Passei uma boa parte da minha vida em eventos esportivos – de jogos de hóquei universitário ao Super Bowl – e em todos os estádios a música pop não para de tocar nos alto-falantes. Não importa se a música tem uma letra brilhante ou é um verdadeiro lixo, ou se está relacionada ao esporte. Não importa se o artista é um deus do rock ou só tem um sucesso. Se é agitada, toca, e de alguma forma a musica se tornou sinônimo dos jogos tanto quanto uma Bud Light de US$ 12.

Coloco a culpa em May. Por quê? Bom, há uma lista das músicas mais tocadas nos eventos esportivos norte-americanos, compilada pela BMI, empresa de licenciamento. No primeiro lugar em 2009 estava a onipresente “We Will Rock You”, que May compôs há três décadas em um quarto de hotel na Inglaterra. Depois de todos esses anos, é impressionante vê-la reinar absoluta. É tão básica e simples, dois minutos e um segundo de duas batidas seguidas por palmas, sobrepostas pelos vocais poderosos de Freddie Mercury. “We Will Rock You” é um hit, e como qualquer música tocada repetidamente (e bota repetidamente nisso), pode começar a ficar um pouco cansativa – exceto, claro, quando é perfeita para o momento, como quando o time da casa derruba o quarterback.

Assim, em uma noite de janeiro, voei sobre o Atlântico ouvindo “We Will Rock You” várias vezes, esperando desenterrar um significado oculto, mas, no final, simplesmente fiquei com a música grudada na cabeça. Ainda penso nela quando entro no táxi para encontrar Brian May no Dominion Theatre, onde o musical “We Will Rock You” está em seu oitavo ano. Sou levado a uma suíte particular e recebo um programa do espetáculo, que folheio enquanto acontece a checagem de som. A batida e as palmas ecoam em meus ouvidos. Então, quando May entra, meu primeiro pensamento não foi o de que estou ante o 39º melhor guitarrista da história, de acordo com a Rolling Stone, ou de que May está no Hall da Fama e vendeu mais de 300 milhões de álbuns. Só quero saber por que raios ele fez isso conosco.

Faça um favor a você mesmo. Entre no YouTube e procure “You’ll Never Walk Alone”, dos jogos do Liverpool. Relaxe e aproveite um dos momentos mais bonitos em um evento esportivo: 45 mil pessoas de pé, balançando bandeiras e cantando em uníssono. Alguns torcedores estão dolorosamente fora do tom, mas todos no estádio bradam com a mesma intensidade que os jogadores exibem em campo, solidificando o laço que supostamente existe entre torcedor e time. Isso sim é música de estádio.

É diferente nos Estados Unidos, onde os DJs apertam o play o tempo inteiro, não apenas para levantar as multidões (“Tubthumping”, do Chumbawamba), mas também, às vezes, para acalmá-los (qualquer coisa da Susan Boyle). Nossa necessidade por essas músicas está enraizada em uma emoção misteriosa. Somos superficiais? Ficamos entediados facilmente? Cantar em uníssono não é a nossa? Ou será que há alguma coisa em cada música que ajuda a nos conectarmos com nós mesmos e com os outros, assim com o esporte faz?

www.espn.com.br

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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