CD: "The Resistance" (Muse) – De tudo um pouco

As bandas inglesas têm mudado bastante em seus últimos álbuns. O Keane, por exemplo, deu uma guinada para a eletrônica em “Perfect Symmetry”. O Coldplay quis mostrar que podia ser chamado de banda “séria” com “Viva La Vida”. E, agora, como não podia deixar de ser, chegou a vez do Muse. “The Resistance”, novo trabalho da banda de Devon, que chegou às lojas na semana passada, pode ser considerado algo bem diferente do que o Muse fez em seus quatro álbuns de estúdio anteriores.

Pretensioso para alguns, honesto para outros, “The Resistance” é um disco, no mínimo, diferente. Quando Matthew Bellamy, Christopher Wolstenholme e Dominic Howard entraram em estúdio, certamente, pensaram em fazer algo bem diferente do que haviam gravado em seus discos anteriores. E, de fato, fizeram. Apesar de “Uprising”, um rockão angustiado (e primeira faixa e primeiro single do álbum), em nada ter a ver com a proposta de “The Resistance”, o que se pode ouvir na maioria das outras 10 faixas é um Muse diferente, grandioso, progressivo, sinfônico, épico, cheio de referências – de Queen a Chopin -, sem que isso signifique que o disco seja o melhor (ou o pior) da carreira da banda inglesa.

Pode-se dizer que a brincadeira começa mesmo na segunda música do álbum, (não) por acaso, a faixa-título. Épica, “Resistance”, cheia de texturas e com um ótimo trabalho de baixo de Christopher Wolstenholme, é uma das mais interessantes do disco, e ainda tem direito a backing vocals, no melhor estilo Queen. Aliás, a banda de Freddie Mercury está presente mesmo, escancaradamente, na mais épica ainda “United States Of Eurasia”. A introdução leve com piano, os efeitos de voz, a guitarra sintetizada, os backing vocals… Não se trata de afirmar que o Queen tenha criado tudo isso, mas que a influência está mais do que evidente, está. Ao que parece, Bellamy e companhia andaram gastando a agulha em discos como “A Night At The Opera” e “The Game”. Uma guitarra no melhor “estilo Brian May” também comparece na dramática “Guiding Light”, cheia de camadas sonoras dos teclados de Bellamy.

Mas não imagine que o Muse só andou ouvindo Queen ultimamente. A mesma “United States Of Eurasia” tem citação de um noturno de Chopin. E o rock sinfônico “I Belong To You” envereda de vez pelo caminho da música clássica, com um trechinho da ópera “Sansão e Dalila”, de Camille Saint-Saëns, e ainda conta com um clarinete. “Unnatural Selection” também segue um padrão “grandioso”. Um rock puro e direto, com uma espécie de interlúdio, cheio de guitarras distorcidas. “MK Ultra” é mais um rock direto e que tem muito a ver com o som que o Muse já fazia em seus trabalhos anteriores – tome-se “Take a Bow” como exemplo.

“Undisclosed Desires”, por sua vez, é uma das faixas que mais têm gerado polêmica entre os fãs do Muse. Uns a odeiam, outros a amam. Sem querer entrar no mérito da questão, a tal canção é válida por mostrar que a banda inglesa pode caminhar por estilos diferenciados, ligados a eletrônica, ao R&B, e até mesmo ao hip-hop. Talvez seja a faixa mais ambiciosa que o Muse gravou até hoje, mais até que a suíte “Exogenesis” que encerra “The Resistance”. Dividida em três movimentos, a suíte é uma espécie de rock sinfônico espacial, que pode parecer pretensiosa em um primeiro momento. Aliás, quarenta músicos participaram da gravação da suíte. A verdade é que, se fossem três faixas distintas, poderiam ser chamadas de “boas” faixas. Mas, a partir do momento em que o Muse coloca em seus subtítulos “Symphony Parts 1, 2 e 3”, a coisa fica mais séria. Não que o Muse não possa fazer a sua “sinfonia”, mas… Menos, muito menos… Até mesmo porque a banda já fez canções muito mais interessantes do que a tal sinfonia…

Talvez a melhor forma de se ouvir “The Resistance” seja com um pensamento neutro. Ou seja, sem imaginar que está ouvindo a obra-prima da década (como algumas publicações têm apregoado), mas também sem imaginar que é o pior álbum da carreira do Muse. Apesar de toda a sua pretensão, “The Resistance” é um álbum honesto. Um passo importante dado pelo Muse em sua carreira. Agora, se foi um passo maior do que as suas pernas, somente o tempo vai dizer.

Fonte: www.sidneyrezende.com

Alexandre Portela

Fã do Queen desde 1991. Amante, fascinado pela banda e seus integrantes. Principalmente Freddie! =)

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Postado por - 16 de janeiro de 2005 0
Embora a carreira discográfica do quarteto inglês tenha sido marcada por altos e baixos, há algo que não se questiona…

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